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15º Domingo do Tempo Comum, Ano C

A Liturgia da Palavra deste 15º Domingo Comum – C, sugere que quem ama os irmãos, revela Deus.

Na verdade quem é que pode amar a Deus que não vê, se não ama seu irmão que vê a todo o momento a seu lado, nas mais diversas e difíceis circunstâncias da vida ?


O homem, quando procura tornar-se Deus, corre o risco de dar uma falsa ideia do verdadeiro Deus, porque não ama seu irmão, pois que os Mandamentos de Deus se resumem nisto :


- Amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos.


Portanto, no amor aos nossos irmãos encontramos a Deus. O amor aos nossos irmãos revela o amor de Deus.


A 1ª Leitura, do Livro do Deuteronômio, pretende dizer-nos que quando rezamos, temos a impressão de que o Senhor não nos ouve, ou pelo menos não nos fala, porque não cumprimos os Seus Mandamentos. Lamentamos o silêncio de Deus na nossa vida. Procuramos Deus longe dos nossos irmãos, quando Ele está não apenas na Palavra que agora ouvimos, mas também nas pessoas que encontramos e nos acontecimentos de que nos damos conta todos os dias.


- «Hás-de ouvir a voz do Senhor, teu Deus, e cumprir os Seus Mandamentos e a Suas leis que estão escritos no Livro da Lei”. (1ª Leitura).

Quantas vezes nos escusamos ao cumprimento dos Mandamentos, alegando que isso está acima das nossas forças, que está mau tempo, que estamos doentes, que temos outros compromissos, etc. Ou até que não sabemos o que é que o Senhor nos pede. Será melhor procurar o Senhor e a Sua Lei, como proclama o Salmo Responsorial :


- “Procurai, pobres, o Senhor, e encontrareis a vida”.

Na 2ª Leitura, S. Paulo diz aos Colossenses, e hoje também a todos nós, que o homem, quando domina as forças do universo, tem por vocação colaborar na obra criadora de Deus, completando-a, tendo em conta que é Jesus o Primeiro entre todos os seres criados.


- “Cristo Jesus é a imagem do Deus invisível, é o Primeiro entre todos os seres criados. Em vista d’Ele é que foram criados todos os seres que há nos Céus e na Terra”...(2ª Leitura).

O universo há de ser espelho de Deus. Mas só Cristo é imagem perfeita do Pai. Deste modo, as coisas do universo – realidades terrestres – e o próprio homem, encontram n’Ele o único meio de reconciliação.


O Evangelho é de S. Lucas, e apresenta-nos o doutor da Lei a perguntar o que é preciso para ter a Vida Eterna. Um homem profundamente conhecedor das Sagradas Escrituras, em cujo trabalho se ocupou por longos anos - pergunta a Jesus quem é o seu próximo.


- “Mas ele querendo justificar a pergunta, disse a Jesus : «E quem é o meu próximo»? (Evangelho).

Jesus contou-lhe a Parábola do bom samaritano, que todos nós conhecemos, para lhe explicar a ele e a todos nós que, «o nosso próximo são todos os homens, sem distinção de classe, raça, credo ou posição social».


«São aqueles que precisam da nossa amizade, da nossa palavra de conforto, que se encontram em necessidade e precisam da nossa solidariedade humana e cristã».


Cristo comporta-se com a humanidade como o samaritano do Evangelho para com um desconhecido; como o bom pastor vem salvar a ovelha despojada, espancada e quase morta, como o filho do dono da vinha se apresenta depois dos profetas enviados em vão, assim o samaritano chega depois dos sacerdotes e dos levitas que não quiseram e não puderam salvar o homem ferido. Vê-se aí um reflexo da história da salvação, na qual Jesus vem sob o aspecto de um samaritano desprezado, revela aquilo de que os outros “técnicos” da salvação se esqueceram, constrói precisamente onde essas técnicas fracassaram.


Em Cristo, Deus aproximou-se do homem com uma fisionomia simples e humana. O Deus que agora conhecemos “não está muito alto nem muito distante” de nós, e a sua lei está muito perto de nós; na nossa boca e no nosso coração, para que a ponhamos em prática. Só encontramos verdadeiramente a Deus, fazendo o mesmo que fez Cristo.


O segredo está no grande mandamento da caridade, que, com Cristo, traz exigências novas. Não basta mais amar o próximo como a si mesmo; é preciso perguntar-se como ser próximo para o outro e amá-lo como Deus o ama. Depois da Ceia, Cristo deixará um Mandamento Novo : amar aos outros como fomos amados.


É necessário tomar consciência da pertença a esta humanidade ferida, abandonada, semimorta à beira da estrada, que Cristo veio salvar. O ateísmo teórico e prático é um facto que se respira no ar. De que modo podem os homens de hoje encontrar a Deus ? Qual será o lugar da revelação de Deus para eles ? Não são, certamente, com e nas demonstrações teóricas.


Em muitos lugares, o homem é ainda hoje torturado, traído, desprezado, abandonado e condenado à morte. Há uma opção precisa a fazer; optar pelo homem acima de todas as coisas : do dinheiro, da profissão e das estruturas... Optar pela sua libertação.

Perguntamo-nos como intervir, tanto ao nível das situações particulares (dar peixe ou ensinar a pescar), como ao nível geral das estruturas (para que os que sabem pescar não sejam roubados e obrigados a passar fome).


Se Deus é Amor, se Cristo é a revelação de Deus porque se entregou à morte pelo homem, o cristão revelará Deus ao mundo com o seu amor concreto pelo próximo. O amor a Deus e ao próximo são condição absolutamente necessária para o cumprimento do plano da História da Salvação.



Diz o Catecismo da Igreja Católica :

1939. – O princípio da solidariedade, também anunciado sob o nome de «amizade» ou «caridade social», é uma exigência direta da fraternidade humana e cristã.

1940. – A solidariedade manifesta-se, em primeiro lugar, na repartição dos bens e remuneração do trabalho. Supõe também o esforço por uma ordem social mais justa, em que as tensões possam ser melhor resolvidas e os conflitos encontrem mais facilmente uma saída negociada.

1942. – A virtude da solidariedade vai além dos bens materiais. Ao difundir os bens espirituais da fé, a Igreja favoreceu, por acréscimo, o desenvolvimento dos bens temporais, a que, muitas vezes, abriu novos caminhos. Assim se verificou, ao longo dos séculos, a Palavra do Senhor : «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo». (Mt.6,33).


John Nascimento

Este texto apresenta grafia de Portugal.

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