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16º Domingo do Tempo Comum, Ano C

A Liturgia da Palavra deste 16º Domingo Comum – C, ensina que a Hospitalidade deve ser uma prerrogativa importante na vida de um Cristão.

Em todas as civilizações antigas, especialmente entre os povos nómadas, a hospitalidade é sagrada, é um acto religioso. Israel faz não só uma leitura religiosa da hospitalidade, mas uma leitura de fé.


Um estrangeiro é um memorial vivo que lhe lembra que outrora também foi estrangeiro e escravo no Egipto, que foi peregrino no deserto e que está cá na Terra, mas de passagem. Se todos pensássemos assim, os bens da terra teriam uma distribuição mais razoável, viveríamos mais em paz porque havia mais hospitalidade.


A 1ª Leitura é do Livro do Génesis e diz-nos que a hospitalidade e generosidade de Abraão nos vão ser apresentadas como modelo.


- «Meu Senhor, se agradei a Vossos olhos, não passeis sem parar ao pé do Vosso servo. (...) Vão buscar um pouco de pão, e podeis restaurar as forças, antes de continuardes o vosso caminho». (1ª Leitura).

Abraão sabe que é ao Senhor que damos o acolhimento que dispensamos aos outros. Jesus mais tarde dirá :

«O que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis».

Reconhecemos nós também a voz de Deus nas nossas acções e conversas do dia-a-dia?Abrimos nós também o nosso coração ao pecador, ao pobre e ao oprimido? Pela hospitalidade fazemos da nossa casa a casa dos outros, como proclama o Salmo Responsorial :


- “Quem viverá, Senhor, em Vossa casa” !

Na 2ª Leitura, S. Paulo escreve da prisão, para os Colossenses e rejubila com a eficácia da sua pregação.


- “Neste momento alegro-me de sofrer por vós, e completo em mim próprio o que falta às tribulações de Cristo, em benefício do Seu Corpo, que é a Igreja”.(2ª leitura).

Cristo é já conhecido no mundo pagão e isso alegra-o no meio do sofrimento.

«Se o grão lançado à terra não morrer, não pode dar fruto».

O Evangelho é de S. Lucas, e apresenta-nos a hospitalidade de Marta e Maria, as irmãs de Lázaro.


- “E uma mulher, de nome Marta, recebeu-O em sua casa. Tinha ela um irmã, chamada Maria (...) que escolheu a melhor parte que lhe não será tirada”.(Evangelho).

Marta e Maria ficaram na tradição da Igreja como dois extremos da prática cristã: A Acção e a Oração. Uma coisa não substitui a outra nem a invalida, mas antes se completam. Uma actividade muito intensa corre o perigo de esconder a presença de Deus na nassa vida e serve muitas vezes de desculpa para a falta de tempo para a oração.


Jesus não se comporta como um hóspede comum, mesmo quando é recebido por amigos de longa data, como Marta e Maria; ele exige atenção especial à sua mensagem e à sua pessoa. Acolher Cristo hóspede é principalmente “ouvi-lo”, pôr-se em atitude de receptividade, mais do que de dar. É ouvindo-o que se entra em comunhão com Ele e se é transformado, como Maria.


Quem se preocupa mais com as coisas a dar, como Marta, do que com a pessoa com quem se comunica, fica mais distante. Jesus manifesta-se sempre como o “forasteiro”, que tira toda a segurança e quer a renúncia total, que lança bases sólidas na linha do amor ligado ao reconhecimento dos outros como diferentes de si.


Este forasteiro veio aos seus, e os seus não o receberam. Aquele que morre na Cruz é o “forasteiro” por excelência, rejeitado por todos; tão forasteiro que, depois da sua ressurreição, os peregrinos de Emaús não o reconheceram no caminho, mas só quando lhe ofereceram hospitalidade.


A hospitalidade cristã, como acolhimento da presença transformadora do “outro” na própria vida, e sobretudo como aceitação do “outro por nós”, mesmo sendo nosso inimigo, é um sinal privilegiado da fidelidade ao mandamnto novo, sem fronteiras. Hospedar o outro é hospedar a Cristo.


O Vaticano II lembra que “sobretudo nos nossos tempos temos a imperiosa obrigação de nos tornarmos próximos de qualquer homem, indestintamente; se ele se nos apresenta, devemos servi-lo activamente quer seja um velho abandonado por todos, ou um operário estrageiro injustamente desprezado, ou exilado, ou uma criança nascida de uma união ilegítima sofrendo imerecidamente por uma falta que não cometeu, seja um faminto que interpela a nossa consciência recordando a voz do Senhor :


- “Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos a mim o fizestes”(GS 27).


Entre as obras de apostolado familiar indica : “adoptar como filhos, crianças abandonadas, acolher com bondade os estrangeiros”.(AA 11)


Na História da nossa Salvação, a hospitalidade cristã é o nosso SIM para o cumprimento do amor para com o próximo como reflexo do amor de Deus.

Diz o Catecismo da Igreja Católica :


2570. – Quando Deus o chama, Abraão parte «como o Senhor lhe tinha mandado»(Gn.12,4). O seu coração está completamente «submetido à Palavra» : ele obedece. A escuta do coração, que decide em conformidade com Deus é essencial à oração; e as palavras estão com ela relacionadas. Mas a oração de Abraão exprime-se, antes de mais, por actos : homem de silêncio, constrói em cada etapa da sua vida um altar ao Senhor...


2571. – Tendo acreditado em Deus, caminhando na Sua presença e em Aliança com Ele, o patriarca está pronto para acolher na sua tenda o Hóspede misterioso : é a admirável hospitalidade de Mambré, prelúdio da Anunciação do verdadeiro Filho da promessa. A partir de então, depois de Deus lhe ter manifestado o seu desígnio, o coração de Abraão está em sintonia com a compaixão do seu Senhor pelos homens, e ousa interceder por eles com uma confiança audaciosa.


John Nascimento

Este texto apresenta grafia de Portugal.

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