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Encíclicas e o Sagrado Coração de Jesus

Um século de profundas mudanças.

Olhando para o século XX vamos perceber profundas mudanças na maneira de focalizar a devoção ao Coração de JESUS, refletidas em documentos pontifícios:


Na primeira metade do século prevalece a linha tradicional de uma espiritualidade baseada em práticas devocionais com ênfase no desagravo, reparação e consagração. Já na segunda metade abrem-se novos horizontes ao apresentar-nos o Coração de JESUS como expressão do amor do Pai e fonte inexaurível de bondade, que suscita nossa entrega e resposta missionária para construir o Reino.


DOCUMENTOS ORIENTADORES:

Duas encíclicas marcam a espiritualidade do Coração de JESUS.


1ª. Pio XI, na Encíclica “Miserentíssimus Redemptor” (1928), numa época de turbulências e perseguições, apresenta o Coração de JESUS como símbolo de paz e de caridade. Afirma que o culto ao CJ é a síntese de toda a nossa religião e a regra de vida mais perfeita; que esta devoção leva em pouco tempo os fiéis a estudarem intensamente a pessoa de Cristo JESUS; e que os estimula a um amor mais entusiasta e à mais fiel imitação. Insiste na consagração ao CJ, na reparação penitencial, no desagravo. Manda que todos os anos, na festa do Coração de JESUS, em todas as igrejas do mundo, se faça um ato solene de desagravo. Esta encíclica prepara a transição de uma espiritualidade ainda devocional para outra mais dinâmica, que visa a construir a civilização do amor.


2ª. Quase 30 anos depois, em 1956, Pio XII promulgou a encíclica “Haurietis Aquas”, considerada a Carta Magna da espiritualidade do Coração de JESUS. Nela o Papa recordava o centenário da extensão a toda a Igreja da festa do SCJ. E exortava os fiéis a abrirem-se ao mistério de Deus e de seu amor, manifestado no Coração de JESUS, e a se deixarem transformar por Ele.Não eram poucos os cristãos que faziam objeções à devoção ao CJ: de ser uma devoção sensível, mais própria para mulheres; de ser uma espiritualidade subjetiva, intimista e baseada em revelações particulares; de pouca utilidade para defender a fé e evangelizar, pois pede virtudes “passivas” como penitência e expiação, ao invés de fomentar a ação missionária. O Papa considera, “à luz da Sagrada Escritura e da Tradição da Igreja, os elementos desta espiritualidade, para que os cristãos se aproximem ‘com alegria das águas das fontes do Salvador’. E assim poderão apreciar melhor a importância e o dinamismo que o culto ao CJ adquiriu na liturgia da Igreja, na sua vida interna e externa, e também nas suas obras”. Destaquemos alguns desses elementos:


a – os frutos: Inumeráveis são as riquezas celestiais que nos fiéis produz a espiritualidade do CJ, purificando-os, enchendo-os de consolações espirituais e estimulando-os a alcançar toda sorte de virtudes (nº1). Ela aprofunda a correspondência do nosso amor ao amor divino (12).


b – o CJ símbolo do amor durante sua vida na terra: Esta espiritualidade contempla o Coração de Cristo como símbolo de amor perfeitíssimo sensível, espiritual, humano e divino, durante sua vida terrena (23). O Coração de JESUS pulsa de amor, ao mesmo tempo humano e divino, desde que o Verbo de Deus se encarnou no seio de Maria; na sua infância e juventude, na sua vida pública, na sua paixão. Igualmente pulsa de amor por nós naqueles momentos em que nos deu os seus dons mais queridos, isto é, a si mesmo no sacramento da Eucaristia, a sua Mãe Santíssima e a participação no ofício sacerdotal. Com o mesmo amor nos deu o dom da Igreja e os sacramentos (39-48).


c – o CJ símbolo de amor na sua vida gloriosa: O SCJ também é símbolo de seu tríplice amor na vida gloriosa no céu, derramando com largueza seus tesouros sobre o gênero humano: O envio do Espírito Santo é o primeiro sinal de seu generoso amor depois da subida aos céus. O Espírito Santo infunde nos discípulos a abundância da caridade divina e dos demais carismas celestes. Esta infusão do amor divino brota do CJ, “no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência”(49-50).


d – o culto ao Amor é dinâmico: leva-nos a amar e servir: O culto ao CJ é o culto ao amor com que Deus nos amou por meio de JESUS e, ao mesmo tempo, o exercício do amor que nos leva a Deus e aos outros homens (70). Ele nos estimula a praticar a lei evangélica, sem a qual não pode haver paz verdadeira, pois “a paz é o fruto da justiça” Is 32, 17. Ele nos infunde confiança, e é manancial de unidade, de salvação e de paz (80-82).


e – amor ao Coração do Filho e ao Coração da Mãe: Finalmente a espiritualidade do CJ une os fiéis ao Coração Imaculado da Mãe de Deus. “Convém que o povo cristão, que recebeu de JESUS a vida divina por meio de Maria, depois de prestar ao CJ o devido culto, renda também ao Coração de sua Mãe celestial os obséquios de piedade, de amor, de agradecimento e de reparação” (84).



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