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Solenidade da Santíssima Trindade

Todos somos um só na SS. Trindade

A Liturgia da Palavra da Solenidade da Santíssima Trindade – C, revela-nos que Deus sempre se dá a conhecer aos homens. Aos homens nós conhecemo-los, vendo-os viver. Mais do que por definições, é pelos seus gestos e atitudes que nos mostram o que são. Ora é também pelos seus gestos que Deus nos dá a conhecer os ministérios impenetráveis da Sua Vida.


Assim foi com a Encarnação que nos manifestou o mistério de um Deus em três pessoas divinas. «Na verdade, o mistério do Verbo feito carne obriga-nos a distinguir três Pessoas em Deus. É só o Verbo que incarna; não se pode descobrir a Sua identidade, se não se reconhece n’Ele o Filho enviado do Pai e destinado a comunicar o Espírito».(Jean Gaillot).

Com a Sua presença no mundo e com as Suas Palavras, Jesus Cristo descobriu-nos as surpreendentes riquezas de Deus. Falou-nos do Pai, que nos ama e quer a nossa salvação; apresentou-Se a Si mesmo como o Filho, o Enviado, o caminho, a verdade e a vida; anunciou-nos a vinda do Espírito Santo como hóspede das nossas almas.


Ao consagrar, de modo especial, um domingo do Ano à Santíssima Trindade, a Liturgia quer levar-nos a prolongar e completar a nossa «descoberta» de Deus, a fim de que a nossa vida, vivida na «graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, no amor do Pai e na comunhão do Espírito Santo» seja um sinal de amor de Deus para os nossos irmãos.

A 1ª Leitura, do Livro dos Provérbios, diz-nos que a Sabedoria não é só um bem muito desejável. É mais do que isso. É uma pessoa viva, cuja origem é anterior à criação de todas as coisas. Intimamente unida a Deus, mas, ao mesmo tempo distinta d’Ele, assiste-O na obra da Criação, manifestando-se activamente criadora. Proveniente de Deus, pertence ao âmbito divino. Contudo, ela vem ao encontro dos homens, no desejo profundo de com eles estabelecer relações de amizade.


- «Quando eu nasci, ainda os abismos não existiam, nem corriam as nascentes de águas abundantes.(...).Deleitava-me sobre a face da Terra, e as minhas delícias eram viver com os filhos dos homens».(1ª leitura).

Nesta Sabedoria de Deus, assim descrita no Antigo Testamento, vê a Tradição Patrística, a partir de S. Justino, o Verbo de Deus, Jesus Cristo, Sabedoria e Palavra criadora de Deus, pelo Qual «tudo foi criado».(Jo.1/3).


Por isso o Salmo Responsorial canta as grandezas de Deus :


- “Como sois grande em toda a Terra, Senhor, nosso Deus”.

Na 2ª leitura, S. Paulo diz aos Romanos, e hoje também a todos os cristãos, que a vida cristã mergulha as suas raízes no mistério de um Deus uno na essência e trino em Pessoas, tal como Se revelou em Jesus Cristo.


Pelo Sacrifício de Jesus, nós fomos, na verdade, introduzidos nessa comunhão de vida e amor, que é a Trindade Santíssima. Reconciliados com o Pai, justificados mediante a fé, passámos de um estado de inimizade com Deus à posse de uma amizade, que nos transforma em imagens e filhos de Deus. Começámos a viver da própria vida de Deus.


- “Nós fomos justificados pela fé e, por isso, estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo”.(2ª Leitura).

E embora entre a justificação e a salvação medeie o espaço da nossa vida terrena, tão fértil em tribulações, estamos seguros de que vivemos a gozar, de modo perfeito, das riquezas de Deus, pois o Espírito Santo nos foi dado como penhor do amor do Pai por nós. O cristão deve impregnar de amor a sua vida e as suas relações humanas, procurando reproduzir na vida de cada dia o que se revelou no mistério da Trindade.


O Evangelho é de S. João, e diz-nos que Jesus, no decorrer de toda a Sua vida, foi dando a conhecer aos Apóstolos, de maneira progressiva, mas muito concreta, as Suas relações com o Pai e o Espírito Santo, introduzindo-os assim no mistério de Deus uno e trino. Ao terminar a Sua missão, promete-lhes o Espírito Santo, como guia seguro, no tempo da Sua ausência.


- «Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade total». (Evangelho).

Espírito de verdade, Ele manterá vivo o ensinamento de Jesus através dos séculos; Ele ajudará os discípulos a aprofundar a Revelação de Jesus, Palavra definitiva do Pai.(Jo.1,12. 18). Segundo o Livro da Sabedoria no Antigo Testamento já se aceitava o mistério da Eternidade, mas Deus ainda se não tinha revelado como uma Trindade, mas apenas como um “Deus Único” :


- “Eu sou aquele que sou!”.


A revelação da Santíssima Trindade foi feita a primeira vez durante o Baptismo de Cristo em que, para além de Cristo que estava a ser baptizado, o Pai se revlelou, chamando a Cristo “Seu Filho”, e o Espírito Santo se manifestou também sob a forma de uma pomba que pairou sobre a cabeça de Cristo.


Mas nesta altura, ninguém podia ainda entender que Deus era uno e trino, que em Deus havia o Pai e Filho e o Espírito Santo, que Deus era uma trindade de Pessoas. Ao longo da sua vida, Jesus foi-se manifestando pouco a pouco. Quando ficou em Jerusalém aos 12 anos e depois foi encontrado por seus pais, ele disse-lhes :


- “Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai ?”(Lc.2,49).


Foi a primeira vez que alguém, incluindo porventura Maria e José, ouviu falar noutro pai de Jesus que não fosse José, pois que Jesus começou por ser apenas o “filho do carpinteiro”. O inefável mistério de Cristo, foi-se gradualmente revelando aos olhos de Maria e de José; daí o não compreenderem certas atitudes do Menino.


Maria, aquela que acreditou (Lc.1,54), caminhava na fé, meditando no seu coração, até chegar à plenitude da verdade. E ao longo da sua vida pública, Jesus se foi manifesando aos poucos, primeiro no dia da sua Transfiguração, e depois, por várias vezes, falando do Pai, aos seus discípulos.


Por fim, depois de ter prometido enviar o Espírito Santo, quando enviou os seus discípulos, disse mesmo claramente, que baptizassem em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Assim, no dia de Pentecostes, quando todos recebaram as linguas de fogo, que era o Espírito Santo, todos ficaram transformados de tal maneira que perderam o medo que deles se tinha apoderado anteriormente e começaram a falar desassombradamente e até eram entendidos por pessoas de outras nacionalidades e de outras línguas. Depois, a Igreja fez o resto do trabalho, sobre a doutrina da Santíssima Trindade e do amor de Deus.


Aceitando este amor de Deus, o Espírito enviado por Cristo, para nos iluminar, vivificar e divinizar, nós recebemos a salvação, que não é simples libertação do pecado, mas sim inserção na vida trinitária, e que só será perfeita na eternidade, segundo o plano da História da Salvação.

Diz o Catecismo da Igreja Católica :

253. – A Trindade é una. Nós não confessamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas : «a Trindade consubstancial» (2º Concílio de Constantinopla em 553 : DS 421). As pessoas divinas não dividem entre Si a divindade única; cada uma delas é Deus por inteiro : «O Pai é aquilo mesmo que o Filho, o Filho aquilo mesmo que o Pai, o Pai e o Filho aquilo mesmo que o Espírito Santo, ou seja, um único Deus por natureza»(11º Concílio de Toledo em 675 : DS 53). «Cada uma das três Pessoas é esta realidade, quer dizer, a substância, a essência ou a natureza divina»(4º Concílio de Latrão em 1215 : DS 804).


John Nascimento

Este texto apresenta grafia de Portugal.

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